quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

Ouvindo sermões: 20 dicas

Escrito por: David Murray 
Tags:Novidade!Pregação
Ouvir sermões é pelo menos tão importante quanto preparar e pregá-los. Eis aqui 20 formas de se tornar um melhor ouvinte de sermão. Alguns desses pontos foram extraídos de três recursos excelentes:
Expository Listening, de Ken Ramey
Listen up!, de Christopher Ash
Take Care How You Listen (free eBook), de John Piper

ANTES DO SERMÃO
1. Leia e medite na Palavra de Deus todos os dias: A leitura diária da Bíblia aguça o apetite para o prato principal no Dia do Senhor. Não podemos esperar estar prontos para digerir alimento espiritual se não comemos ao longo de toda a semana. E não estrague o seu apetite banqueteando-se com o pecado.
2. Limite o consumo de mídia: A maioria dos americanos consome de 9 a 11 horas de mídia por dia (Tiago 1.21). No livro Preaching to Programmed People: Effective Communication in a Media-Saturated Society, Timothy Turner explica como “assistir televisão e ouvir a uma pregação são diametralmente opostos; um é visual, o outro é racional; um envolve os olhos, o outro envolve os ouvidos; um cria observadores passivos, o outro requer ouvintes ativos”.
Após assistir televisão e ir ao cinema, surfar a semana toda na internet, você vai para a igreja e precisa sentar e ouvir a um sermão longo que requer uma grande quantidade de concentração e esforço com os quais você não está acostumado. Espera-se que você passe de ser um espectador passivo a um ouvinte agressivo literalmente da noite para o dia. Ouvir requer uma grande quantidade de concentração e auto-disciplina. (Expository Listening, Ken Ramey, p. 42)

3. Use bem a noite de sábado:
 Arrume a semana anterior, prepara-se para a próxima semana, vá para cama cedo, desencoraje que as crianças fiquem acordadas até tarde na noite de sábado.
4. Ore por você mesmo e pelo pastor: Faça isso diariamente, mas especialmente no Domingo. De muitas formas, “você receberá o que pediu”.
5. Treine-se para ouvir: Existem inúmeros recursos sobre como pregar, mas, à parte dos poucos mencionados acima, pouquíssimos sobre como ouvir.
Os pregadores possuem muitos recursos para treiná-los e equipá-los a se tornarem melhores pregadores, mas os ouvintes dificilmente têm qualquer recurso para treiná-los e equipá-los a se tornarem melhores ouvintes. Isso é surpreendente quando você considera que o número de ouvintes excede em muito o número de pregadores e ainda mais quando você percebe que a Bíblia fala mais sobre a responsabilidade do ouvinte ouvir e obedecer à Palavra de Deus do que o faz sobre a responsabilidade do pregador explicar e aplicar a Palavra de Deus. De capa a capa, a Bíblia está recheada de versículos e passagens que falam sobre a necessidade vital de ouvir e obedecer à Palavra de Deus. Deus está muito preocupado sobre como os pregadores pregam. Mas com base na enorme quantidade de referências bíblicas a escutar e ouvir, é inegável que Deus está tão preocupado, se não mais, em como os ouvintes ouvem. (Expository Listening, Ken Ramey, p. 3)

O SERMÃO
1. Chegue à igreja com folga de tempo, a fim de se instalar com calma e se concentrar.
2. Respeito o silêncio do santuário: Isso incluir treinar seus filhos a não distrair os outros.
3. Engaje seu corpo e alma na adoração e oração: Envolva todo o seu corpo, mente e alma na adoração antes do sermão.
4. Diga a si mesmo que Deus está prestes a falar: Continue orando para que ele fale com você por meio da sua Palavra.
5. Reconheça que esse é um esforço de equipe e assume a responsabilidade pessoal.
O sermão é uma aventura em conjunto entre o pregador e o ouvinte. Sermões bem sucedidos é o resultado do ouvinte em parceria com o pregador, de forma muito semelhante a como um receptor trabalha em uníssono com um arremessador. Tanto o receptor quanto o arremessador desempenham um papel importante a desempenhar no processo de arremesso. A responsabilidade não descansa inteiramente nos ombros do arremessador. (Expository Listening, Ken Ramey, p. 4)
6. Faça breves anotações: O suficiente para você se concentrar, mas não tantas ao ponto do sermão se transformar numa palestra que engaja apenas a mente.
7. Verifique se o pregador está pregando a Palavra de Deus: Não com um espírito farisaico crítico (Lucas 11.54), mas com um espírito de discernimento bereano (Atos 17.11).
8. Aceite que haverá momentos em que a Palavra te machucará: Não reaja contra isso e “se desligue”, mas receba a repreensão e tente extrair proveito dela.
9. Tenha boa vontade para com o pregador: Má vontade ou malícia para com o pregador é algo que endurece o coração. Algo que bloqueia a Palavra.
10. Tente encontrar uma coisa da qual se beneficiar: Em geral você pode encontrar uma ou duas migalhas mesmo no pior sermão do pior pregador.

APÓS O SERMÃO
1. Converse com outros sobre o sermão: Compartilhe com os seus amigos e família aquilo que te ajudou.
2. Coloque-o em prática: Obedeça e pratique a Palavra.
3. Seja paciente ao esperar os resultados: Semeadura e colheita de frutos pressupõe um processo gradual e lento de desenvolvimento.
4. Trabalhe o seu solo: O solo pode mudar de ruim para bom, e então para muito bom. Somos responsáveis por preparar o solo do nosso coração (Marcos 4.1-20).
5. Dê feedback: De vez em quando encoraje os pregadores com detalhes sobre como e de que forma sermões particulares te ajudaram. E o que acontece quando você fez todas essas 20 coisas dessa lista e decide que precisa dar um feedback negativo. Bem, confira em seu blog o post sobre como criticar o seu pastor.
 
Tradução: Felipe Sabino (setembro/2013)

David Murray
Pastor da Free Reformed Church, em Grand Rapids. Professor de Antigo Testamento & Teologia Prática no Puritan Reformed Theological Seminary. 

10 Marcas Distintivas da Pregação de João Calvino

Escrito por: Steven Lawson
No livro João Calvino: amor à devoção, doutrina e glória de Deus (Editora Fiel), editado por Burk Parsons, há um capítulo intitulado O Pregador da Palavra de Deus, escrito por Steven Lawson. Aqui está um resumo desse capítulo, delineando o que Steven Lawson sugere ser as dez marcas distintivas da pregação de Calvino. 
1. A pregação de Calvino era bíblica em seu conteúdo.
“O reformador se manteve firme no principal fundamento da Reforma — sola Scriptura (somente a Escritura)… Calvino acreditava que o pregador não tinha nada a dizer além das Escrituras.” (pp. 96-97)
2. A pregação de Calvino seguia um padrão sequencial.
“Durante o ministério de Calvino, o seu procedimento era pregar sistematicamente sobre livros inteiros da Bíblia… Na manhã dos domingos, Calvino pregava o Novo Testamento; à tarde, o Novo Testamento e os Salmos; e, em semanas alternadas, pregava o Antigo Testamento todas as manhãs da semana. Servindo-se desse método consecutivo, Calvino pregou quase todos os livros da Bíblia.” (pp. 97-98)
3. A pregação de Calvino era direta em sua mensagem.
“Quando expunha as Escrituras, Calvino era notoriamente direto e centrado no ensino principal. Ele não iniciava sua mensagem com uma história cativante, uma citação estimulante ou uma anedota pessoal. Em vez disso, Calvino introduzia de imediato os seus ouvintes no texto bíblico. O foco da mensagem era sempre as Escrituras, e Calvino falava o que precisava ser dito com economia de palavras. Não havia frases desperdiçadas.” (p. 98)
4. A pregação de Calvino era extemporânea em seu apresentação.
“Quando subia ao púlpito, ele não levava consigo um rascunho escrito ou esboço do sermão. O reformador fez uma escolha consciente de pregar extempore, ou seja, espontaneamente. Ele queria que seus sermões tivessem uma desenvoltura natural e cheia de paixão, enérgica e envolvente; acreditava que a pregação espontânea era mais conveniente para cumprir esses objetivos.” (p. 99)
5. A pregação de Calvino era exegética em sua abordagem.
“Calvino insistia que as palavras da Escritura têm de ser interpretadas conforme o ambiente histórico específico, as línguas originais, as estruturas gramaticais e o contexto bíblico… Calvino insistiu no sensus literalis, o sentido literal do texto bíblico.” (p. 100)
6. A pregação de Calvino era acessível em sua simplicidade.
“Como pregador, o principal objetivo de Calvino não era comunicar-se com outros teólogos, e sim alcançar as pessoas comuns, assentadas no banco… Ocasionalmente, Calvino explicaria mais cuidadosamente o significado de uma palavra, sem citar o grego ou o hebraico original. Todavia, Calvino não hesitava em usar a linguagem da Bíblia.” (p. 101-102)
7. A pregação de Calvino possuía um tom pastoral.
“O reformador de Genebra nunca perdia de vista o fato de que ele era um pastor. Assim, ele aplicava calorosamente as Escrituras, com exortação amável a fim de pastorear o seu rebanho. Ele pregava com a intenção de estimular e encorajar suas ovelhas a seguirem a Palavra.” (p. 102)
8. A pregação de Calvino era polêmica em sua defesa da verdade.
“Para Calvino, a pregação necessitava de uma defesa apologética da verdade. Ele acreditava que os pregadores tinham de resguardar a verdade; por isso, a exposição sistemática exigia a confrontação das mentiras do Diabo em todas as suas formas enganosas.” (p. 103)
9. A pregação de Calvino era cheia de paixão em seu alcance.
“Em nossos dias, há uma noção errônea de que, por acreditar na predestinação, Calvino não era evangelístico. O mito persistente é que ele não tinha paixão por alcançar almas perdidas para trazê-las a Cristo. Nada pode estar mais distante da verdade. Calvino possuía uma grande paixão por alcançar as almas perdidas. Por essa razão, ele pregava o evangelho com uma persuasão que afetava o coração e com amor, apelava aos pecadores desgarrados a se renderem à misericórdia de Deus.” (p. 104)
10. A pregação de Calvino era doxológica em sua conclusão.
“Todos os sermões de Calvino eram completamente teocêntricos, mas seus apelos conclusivos eram sinceros e amorosos. Ele não podia descer do púlpito sem exaltar o Senhor e instar seus ouvintes a se rederem à absolutamente supremacia dEle. Os ouvintes tinham de se humilhar sob a poderosa mão de Deus. Quando concluía, Calvino exortava regularmente sua congregação: ‘Prostremo-nos todos ante a majestade do nosso grande Deus’. Não importando o texto bíblico sobre o qual ele pregava, essas palavras demandavam uma submissão incondicional de seus ouvintes.” (p. 105)
Tradução: Felipe Sabino (agosto/2013)

Steven Lawson
Steven Lawson é o pastor da Christ Fellowship Baptist Church em Mobile, Alabama, e atuou como pastor nos estados do Arkansas e Alabama por vinte e oito anos. Obteve seu Bacharelado em Administração de Empresas na Universidade Tecnológica do Texas, Mestrado em Teologia no Seminário Teológico de Dallas e Doutorado em Ministério no Seminário Teológico Reformado. Escreveu catorze livros, incluindo A Arte Expositiva de João Calvino, As Firmes Resoluções de Jonathan Edwards, Fundamentos da Graça (prelo Editora Fiel). Dr. Lawson e sua esposa, Anne, têm três filhos, Andrew, James e John, e uma filha, Grace Anne.

terça-feira, 15 de outubro de 2013

DEIXAI IR A ELE, AS CRIANÇAS!


Anderson Martins Lamarão


Para muitas pessoas, ser criança é sinônimo de pureza e ingenuidade. A definição popular da palavra ingenuidade é inocência, pureza, sem malícia. Uma pessoa "ingênua" pode ser definida como alguém que não se comporta de maneira maliciosa e que facilmente pode ser influenciada sem desconfiar da malignidade de outrem. Entretanto a palavra pureza pode ser confundida com a ingenuidade, mas o seu significado é bem distinto à luz das Sagradas Escrituras. ¹Para o cristianismo a pureza é referida como uma necessidade para a realização plena de uma vida em comunhão com Deus. Várias são as referências na Bíblia que recorrem a pureza, seja do coração, das intenções, dos pensamentos, da vida em sociedade. 

Há quem diga que as crianças não possuem pecados e até certo ponto possuem uma espécie de garantia para a eternidade. Todavia esse pensamento não está em consonância com o que a Escritura ensina, veja: "Até a criança mostra o que é por suas ações; o seu procedimento revelará se ela é pura e justa" Pv 20:11 (NVI). 

O rei Davi declara: " Sei que sou pecador desde que nasci, sim, desde que me concebeu minha mãe" Salmos 51:5 (NVI). Isso significa que a ingenuidade não confere pureza e ausência de mácula numa criança. Você já notou que as crianças também são desobedientes? Você já avistou alguma criança furtando? Você acredita que crianças mentem? Sabe, têm crianças que tiram a vida de outrem e cometem cada barbaridade que até os adultos duvidam. Não podemos ignorar as recomendações reveladas em: Dt 6:7; Pv 19:18; Pv 22:6. 

Vale ressaltar que o problema do pecado não consiste em apenas praticar o pecado, mas sim, em que todos contraíram este como herança do homem Adão (Salmo 51:5). Até mesmo as crianças precisam de salvação. As crianças devem ser evangelizadas também. 

Muitos adultos, por desconhecerem a doutrina da Regeneração ignoram o fato de que até mesmo as crianças necessitam da graça de Deus. Visto que esta doutrina tem sido esquecida, não são poucos a deturpar o texto de Mateus 18:3 ("...como crianças..."). Nessa ocasião Jesus faz esta comparação não porque as crianças são inocentes, mas porque elas são dependentes de outros e, voluntariamente, aceitam deles aquilo que não podem obter por si mesmas. Ora, a regeneração bem como a conversão também são necessárias na infância, pois foi do nosso Senhor e Salvador Jesus a declaração: "Deixem vir a mim as crianças e não as impeçam.." Mateus 19:14 (NVI). Os discípulos consideravam as crianças como embaraço na obra de Jesus, mas Jesus as acolhe como súditos do reino e as abençoa. Uma vez que a entrada do reino é pela graça de Deus e não pela conquista humana, os pequenos dependentes desfrutam de direito especial às bênçãos da aliança. 

Que sejam removidas as barreiras da evangelização infantil, deixem ir a Jesus as crianças!

Soli Deo Glória!


Fonte para Consulta: Bíblia de Estudo de Genebra 

sexta-feira, 30 de agosto de 2013

Eu sou neurótico!


Cheguei à conclusão que sou neurótico. O que já pode ser percebido pelo início deste texto e o restante da argumentação. Ainda bem que neurose não tem qualquer relação com doença mental. Ufa! Pelo menos não sou maluco. Ainda não. Quem sabe um dia. Na minha consulta ao Dr. Google sobre o assunto, descobri que tenho transtorno ansioso, também conhecido como ansiedade neurótica, que se expressa em sintomas cardiovasculares, sudorese e opressão no peito; e tensão muscular exagerada, espasmos e tremores.

Pois bem, quando sou acometido por esta ansiedade neurótica a minha perna começa a tremer de forma incontrolável e uma pressão no peito às vezes faz com que eu sinta falta de ar.

Antes que alguém pense que eu, de vez em quando, fique no mesmo estado perturbado do rei Saul, ou que tudo isso exija a minha participação em um “encontro poderoso” para a libertação dessa opressão, quero adiantar que considero tudo isso crendice popular gospel e macumba evangélica. Portanto, comigo não cola.

Além disso, neurose tem “cura”, assim como o diabetes. Na verdade, tem controle. Neste aspecto eu tenho duas coisas a controlar, a neurose e a diabetes, com a qual convivo desde os 10 anos de idade. Novamente, nada dessa piada, no estilo humor negro evangélico, em dizer que eu tenho maldição hereditária que precisa ser quebrada ou encosto a ser afastado, porque “diabete” é a mulher do “diabo”.

Acho que agora eu vou escandalizar geral: essa minha ansiedade neurótica se manifesta justamente dentro da igreja, durante o culto, no momento em que alguém está pregando ao púlpito, ao longo de certas pregações.
Antes que você conclua que eu preciso ser “ungido com óleo” e passar por uma “corrente de libertação”, irei explicar o motivo dessa neurose.

Há alguns meses eu tive a grata satisfação de acessar, através de textos publicados nos blogs Voltemos ao Evangelho1 2 e I-Pródigo3, as páginas do Ministério 9 Marcas4 5 6 que tratavam da pregação teologicamente bíblica. Também pude ler argumentações em favor da sã doutrina7, que aliada à revelação de Cristo em toda a Escritura Sagrada, formam os fundamentos para o adequado entendimento da Bíblia e a eficaz pregação expositiva.
Uma excelente referência foi o artigo de Dario de Araújo Cardoso8 que defendia a necessidade da abordagem cristocêntrica dos textos biográficos do Antigo Testamento. Deveríamos olhar para as pessoas retratadas na Bíblia não apenas como exemplos de moralidade ou de conduta reprovável, mas cujas histórias se encaixam dentro de uma história maior, a revelação do plano de redenção elaborado por Deus, que culminou em Jesus Cristo. Assim, deveríamos todos, crentes que leem a Bíblia e pregadores, atentar para a chave hermenêutica bíblica: “Cristo não é apenas o tema central e principal das Escrituras, mas é, sobretudo, o tema de toda a Escritura”, de forma que “todo sermão realmente bíblico se desenvolverá de forma a apresentar Jesus Cristo aos ouvintes”.

Com base nestes textos reveladores e ajustadores da minha conduta, sugeri à liderança da igreja local que pensasse na possibilidade de abordar esses temas na nossa Escola Bíblica Dominical. Graças a Deus, a ideia foi comprada e tivemos duas saudáveis manhãs para sermos ensinados como compreender melhor a Bíblia, fundamentados em três pilares, resumidos a seguir:

1) Toda as Escrituras falam a respeito de Jesus Cristo (João 5.39, 46; Lucas 24.25-27; Atos 2.29-32; 3.18,24; 26.22-23) – O Messias é revelado ao longo da Bíblia, e como estudantes ou pregadores temos o dever de encontrar o Salvador e sua obra nos textos do Antigo e do Novo Testamento;

2) A sã doutrina é encontrada no evangelho (1 Timóteo 1.8-11) – Trata-se do conjunto de princípios que servem de base para a regra de fé, comportamento e norma de conduta social, obtidos a partir da compreensão da revelação bíblica da pessoa e obra do Pai, da pessoa e obra do Filho, da pessoa e obra do Espírito Santo. Ou seja, como devo agir dentro e fora da igreja diante daquilo que a Bíblia revela por meio do evangelho;

3) A teologia bíblia enxerga a Bíblia unificada em torno do evangelho – Trata-se do entendimento que a Bíblia é o relato autobiográfico de Deus, da sua missão pessoal de resgate para restaurar um mundo perdido por meio de seu Filho. Desta forma, mesmo não desconsiderando os estilos dos textos (histórico, poético ou profético), o momento histórico ou a cultura local, o relato bíblico transcende tudo isso porque estes aspectos se encaixam na revelação progressiva do plano de redenção dos escolhidos de Deus. Assim, a Bíblia passa muito longe do discurso motivacional. O glorioso evangelho é o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê (Romanos 1.16), com ênfase em poder de Deus.

A partir daqueles dois dias de Escola Bíblica eu fiquei mais neurótico do que antes. Percebi o quanto é ridiculamente fácil manipular as emoções das pessoas e a partir de uma falação recheada de palavras de efeito e até frases de para-choque de caminhão, promover um discurso vazio, sem Cristo, que poderia ter sido feito por qualquer um desses palestrantes motivacionais contratados por empresas. Percebi o quanto este discurso deixa o crente comum extremamente satisfeito. O povo gosta disso.

Curioso foi notar que uma irmã que tinha saído por um instante, antes do professor começar a dar um exemplo de como seria uma pregação sem teologia bíblica, ao voltar no meio daquela falação empolgante, do apelo, atos proféticos e da música que foi cantada no final, começar a dar “glória a Deus” pelo que ouvia, dizendo: “Eu recebo”.

Meus amigos, como é fácil preparar um sermão assim. E como é difícil para quem passou a vida inteira ouvindo sermões como estes, perceber o quanto é infrutífero tal discurso. Quão grande é a luta para pregar o verdadeiro evangelho nos nossos dias. Simplesmente e poderosamente o evangelho transformador, capaz de fazer nova criação (2 Coríntios 5.17).

Hoje, a minha ansiedade neurótica se manifesta toda a vez que eu ouço um discurso vazio, humanista, psicológico, sociológico e motivacional. Toda vez que percebo que bastaria pegar um palestrante de empresas e colocá-lo sobre o púlpito em substituição do pregador, que o discurso seria o mesmo, com a única diferença que o palestrante não usaria a Bíblia para sustentar sua fala.
Interessante são as alcunhas que alguns dão a essa “pregação psicologizada”. Certa vez eu ouvia o programa de uma rádio evangélica, quando o pastor disse que iria dar uma “palavra pastoral” para a aflição da ouvinte e começou a dar conselhos no estilo “pregação psicologizada”, a ponto de me fazer pensar até que ele estava lendo um texto escrito pela Zora Yonara.

Meus irmãos, se a nossa pregação em nada diferenciar-se dos discursos budistas, taoistas, kardecistas, esotéricos, hinduístas ou humanistas, para nada serve, a menos para ser pisada pelos porcos. Na pregação bíblica há o poder de Deus para a transformação do homem, porque trata do maior problema da humanidade, o pecado e a necessidade de um Salvador substitutivo. Isso vale tanto para a conversão quanto para a caminhada cristã. Digo isso porque há crentes que acreditam que, uma vez convertidos, não precisam mais da mensagem da cruz.

Hoje em dia minha ansiedade neurótica é percebida quando ouço pregações totalmente moralistas, desprovidas de conteúdo bíblico e que usam o texto Sagrado apenas como mote para falar de coisas que passam muito longe da graça. Assim, ao perceber que o pregador lê sobre um personagem do Antigo Testamento e olha para os bons e maus exemplos da vida desta pessoa para tirar dali estratégias de como o crente deve ou não deve viver, como pode vencer os problemas da vida, tudo isso sem olhar para o plano de redenção, sem olhar para as doutrinas da graça, sem olhar para a própria graça salvadora, em um discurso do homem para o homem, com o nome Jesus totalmente dispensável, minha perna começa a tremer, sinto uma pressão no peito e falta de ar.
Sim, ultimamente tenho sido acometido pela neurose.

Por Erlon Reis

Permissões: Você está autorizado e incentivado a reproduzir e distribuir este material em qualquer formato, desde que informe o autor, não altere o conteúdo original e não o utilize para fins comerciais.

Você também poderá acessar: 
1http://voltemosaoevangelho.com/blog/2011/12/os-meios-da-graca-leitura-biblica-3/

O Declínio da Pregação Contemporânea


Você já percebeu como diversos comerciais de televisão não falam especificamente sobre os produtos que anunciam? Um anúncio de jeans apresenta um comovente drama a respeito da infelicidade dos adolescentes, mas não se refere ao jeans. Um comercial de perfumes mostra uma coletânea de imagens sensuais sem qualquer referência ao produto anunciado. As propagandas de cerveja são algumas das mais criativas da televisão, mas falam muito pouco sobre a própria cerveja.
Esses comerciais são produzidos com o objetivo de entreter, criar disposição e apelar às nossas emoções, mas não para transmitir informações. Com freqüência, eles são os mais eficientes, visto serem os que fazem melhor proveito da televisão. São produtos naturais de um veículo de comunicação que promove uma visão surrealista do mundo.
A televisão mescla sutilmente a vida real com a ilusão. A verdade é irrelevante. O que realmente importa é se estamos sendo entretidos. A essência não significa nada; o estilo de vida é o que mais interessa. Nas palavras de Marshall McLuhan, o instrumento é a mensagem.
Amusing Ouselves to Death (Divertindo-nos até à morte) é um livro perceptivo mas inquietante escrito por Neil Postman, professor da Universidade de Nova Iorque. Ele argumenta que a televisão nos tem mutilado a capacidade de pensar e reduzido nossa aptidão para a verdadeira comunicação.
Postman assegura que, ao invés de nos tornar a mais informada e erudita de todas as gerações da História, a televisão tem inundado nossas mentes com informações irrelevantes, sem significado. Ela nos tem condicionado apenas ao entretenimento, tornando obsoletas outras formas de interação humana.
Postman ressalta que até os noticiários são uma apresentação teatral. Jornalistas simpáticos relatam calmamente breves notícias sobre guerras, assassinatos, crimes e desastres naturais. Essas histórias catastróficas são intercaladas por comerciais que banalizam suas informações, isolando-as de seu contexto. Em seu livro, Postman registra um noticiário em que um almirante declarou que uma guerra nuclear mundial seria inevitável. No próximo segmento da programação, houve um comercial do Rei dos Hamburgers. Não se espera que nossa reação seja racional. Nas palavras de Postman, .os espectadores não reagirão com um senso da realidade, assim como a audiência no teatro não sairá correndo para casa, porque alguém no palco disse que um assassino estava solto na vizinhança..
A televisão não pode exigir uma resposta sensata. As pessoas ligamna para se divertir, não para serem desafiadas a pensar. Se um programa exige que pensemos ou demanda muito de nossas faculdades intelectuais, ninguém o assiste.
A televisão tem diminuído o alcance de nossa atenção. Por exemplo, alguma pessoa de nossa sociedade ficaria de pé, entre uma sufocante multidão, durante sete horas para ouvir os debates dos candidatos a presidente da República? Sinceramente, é muito difícil imaginar que nossos antepassados possuíam esse tipo de paciência. Temos permitido a televisão nos fazer pensar que sabemos mais agora, enquanto na verdade estamos perdendo nossa tolerância na área de pensar e aprender.
Sem dúvida, a mensagem mais vigorosa do livro de Postman está em um capítulo sobre religião. Esse homem não-crente escreve com profundo discernimento a respeito do declínio da pregação. Ele contrasta a pregação contemporânea com o ministério de homens como Jonathan Edwards, George Whitefield e outros. Estes homens contavam com um profundo conteúdo, lógica e conhecimento das Escrituras. Em contraste, a pregação de nossos dias é superficial, com ênfase no estilo e nas emoções. Na definição moderna, a .boa. pregação tem de ser, antes de tudo, breve e estimulante. Consiste em entretenimento, não em ensino, repreensão, correção ou educação na justiça (2 Tm 3.16).
O modelo da pregação moderna é o evangelista esperto que exagera as emoções, traz consigo um microfone, enquanto anda pomposamente ao redor do púlpito, levando os ouvintes a baterem palmas, movimentarem- se e fazerem aclamações em voz bem alta, ao tempo em que ele os incita a um frenesi. Não existe alimento espiritual na mensagem, mas quem se importa, visto que a resposta é entusiástica?
É lógico que a pregação em muitas das igrejas conservadoras não se realiza de maneira tão exagerada assim. Mas, infelizmente, até algumas das melhores pregações de nossos dias contêm mais entretenimento do que ensino. Muitas igrejas têm um sermão característico de meia hora, repleto de histórias engraçadas e pouco ensino.
Na verdade, muitos pregadores consideram o ensino de doutrinas como algo indesejável e sem utilidade prática. Uma grande revista evangélica recentemente publicou um artigo escrito por um famoso pregador carismático. Ele utilizou uma página inteira para falar sobre a futilidade tanto de pregar quanto de ouvir sermões que vão além de mero entretenimento. Qual foi a sua conclusão? As pessoas não recordam aquilo que você pregou; por isso, a maior parte da pregação é perda de tempo. .Procurarei fazer melhor no próximo ano., ele escreveu, .isto significa desperdiçar menos tempo ouvindo sermões demorados e gastando mais tempo preparando sermões curtos. As pessoas, eu descobri, perdoarão uma teologia pobre, se o culto matinal terminar antes do meio-dia..
Isto resume com perfeição a atitude que predomina na igreja moderna. Existe uma semelhança entre esse tipo de pregação e os comerciais de jeans, perfume e cerveja na televisão. Assim como os comerciais, a pregação moderna tem o objetivo de criar uma disposição íntima, evocar uma resposta emocional e entreter, mas não o de comunicar necessariamente algo da essência das Escrituras. Esse tipo de pregação é uma completa acomodação a uma sociedade educada pela televisão. Segue o que é agradável, porém revela pouca preocupação com a verdade. Não é o tipo de pregação ordenada nas Escrituras. Temos de pregar a Palavra (2 Tm 4.2); falar .o que convém à sã doutrina. (Tt 2.1); ensinar e recomendar .o ensino segundo a piedade. (1 Tm 6.3). É impossível fazer estas coisas se nosso alvo é entreter as pessoas.
O futuro da pregação expositiva é incerto. O que um pastor sincero tem de fazer para alcançar pessoas que se mostram indispostas e incapazes de ouvir com atenção e raciocínio exposições da verdade divina? Este é o grande desafio para os líderes da igreja contemporânea. Não devemos nos render à pressão para sermos superficiais. Temos de encontrar maneiras de fazer conhecida a Palavra de Deus a uma geração que não apenas recusa-se a ouvir, mas também não sabe como ouvir.
Fonte: Editora Fiel

sábado, 27 de julho de 2013

Francisco é diferente – só que não!


Francisco toca na imagem de “nossa Senhora Aparecida” antes de rezar missa no santuário dedicado à padroeira do Brasil.


Por Bispo José Moreno

Há cerca de trinta dias, conversei com uma jovem evangélica muito comprometida com o departamento de missões de sua igreja e com obras sociais, a qual me foi apresentada por um amigo comum, pastor, que a conhece de uma temporada missionária em outro país.

Ela me pareceu muito dinâmica, alegre, bem disposta e, sobretudo, temente a Deus, o que é a característica principal de um missionário cristão. Além disso, tem formação superior e pós-graduação. E, se isso não bastasse, é morena, bonita e solteira. Como eu tenho um filho jovem, logo pensei em tê-la como nora…

Mas o que me surpreendeu naquele encontro não foram os muitos dotes dessa jovem. Fiquei particularmente admirado com a empolgação dela com a vinda de Francisco ao Rio de Janeiro para a Jornada Mundial da Juventude. Pelo que disse, é bem provável que ela seja um dos muitos milhares de jovens presentes nos encontros que o papa está tendo com eles aqui na Cidade Maravilhosa.

De fato, Francisco é atraente. É sorridente, humilde, afetuoso, acessível. Tem uma postura bem diferente da dos seus antecessores: abriu mão do trono dourado no Vaticano e o substituiu por uma cadeira de madeira bem simples; não usa a estola vermelha bordada a ouro; seu anel é de prata e não de ouro; sua cruz é a mesma que usava antes, de metal comum; recusou os luxuosos aposentos papais e vive modestamente, sem ostentação. Não exige tapete vermelho e anda a pé; quando precisa usar um automóvel, prefere modelos populares, sem luxo.

Não há dúvida que ele é diferente. Ele quer uma igreja pobre, próxima do povo; escandaliza-se ao ver padres e bispos locomovendo-se em carros suntuosos, último tipo. Está bem claro para todos que ele será um dos mais populares papas da história. E tenho certeza de que fará mudanças radicais na cúpula da Igreja romana. Obviamente, essa popularidade e essas mudanças repercutirão em diversos setores religiosos e laicos no mundo todo. E atrairão, como se sabe, muitos evangélicos.

Mas, um momento!

Os evangélicos vão se tornar devotos de Maria também? Pois Francisco é devotíssimo da bem-aventurada mãe de nosso Senhor Jesus Cristo, a quem os romanos chamam de “nossa Senhora”. A seu pedido, o roteiro da sua vinda ao Brasil foi modificado, para que ele fosse rezar em Aparecida perante a imagem da “nossa Senhora”.

Os evangélicos serão aceitos na eucaristia romana (ceia do Senhor)? E, se forem, aceitarão tranquilamente a doutrina da transubstanciação? Concordarão com o sacrifício da missa? Buscarão as indulgências? Participarão da “veneração” das imagens dos santos? Recorrerão à intercessão dos santos? Fugirão do purgatório?

Francisco é diferente – só que não, pois como papa ele é o chefe da Igreja que pratica todas essas – e outras – distorções do texto sagrado, o qual chamamos de Bíblia, nossa única regra de fé e prática.

A Reforma Protestante veio depurar a igreja. Os evangélicos, em tese, são herdeiros da reforma e não do romanismo. O moto protestante é:“Ecclesia reformata et semper reformanda est”. Enquanto isso, a Igreja romana segue firme nas suas tradições, imutável. Mas o papa é pop.

Por isso fiquei pensando naquela jovem evangélica empolgada com a vinda de Francisco ao Brasil. Acho que a falha está do nosso lado. Estamos errando por não ensinar corretamente os nossos jovens. Até quando?

terça-feira, 25 de junho de 2013

Cinco Marcas das Igrejas Avivadas – Ray Ortlund

Postado em 25/06/2013 sob ArtigoOutrosReforma/Avivamento | Seja o primeiro a comentar! e Nenhuma reação


J.I. Packer, escrevendo em God in our Midst (“Deus em Nosso Meio”; Ann Arbor, 1987), páginas 24-35, propõe que, entre a variedade de meios de ação de Deus, cinco constantes aparecem nos avivamentos bíblicos:
1- Consciência da presença de Deus: “A primeira e fundamental característica no avivamento é o senso de que Deus se aproximou de maneira assombrosa em sua santidade, misericórdia e poder”.
2- Reação à Palavra de Deus: “A mensagem da Escritura que anteriormente, quando muito, fazia apenas um impacto superficial, agora sonda seus ouvintes e leitores nas profundezas de seus seres”.
3- Sensibilidade ao pecado: “As consciências se tornam delicadas e uma profunda humildade se faz presente”.
4- Disposição em comunidade: “Amor e generosidade, unidade e alegria, segurança e ousadia, um espírito de louvor e oração e uma paixão de alcançar e ganhar outros são marcas recorrentes de comunidades avivadas”.
5- Frutificação no testemunho: “Os cristãos proclamam através das palavras e das obras o poder da nova vida, almas são ganhas, e uma consciência comunitária informada por valores cristãos emerge”.
Nenhuma igreja, nenhuma comunidade, pode experimentar tais poderes celestiais sem um motim contra este mundo. Além disso, é trabalho do pastor orar pelo avivamento e pregar em direção ao avivamento. Portanto, um pastor fiel não pode realizar seu trabalho sem aceitar que o evangelho que ele prega causará uma mudança drástica.
Entendido.
Por Ray Ortlund. Copyright The Gospel Coalition, Inc. Original: Five marks of revived churches
Tradução: Alan Cristie. Ministério Fiel © Todos os direitos reservados. Original: Cinco Marcas das Igrejas Avivadas – Ray Ortlund 
Permissões: Você está autorizado e incentivado a reproduzir e distribuir este material em qualquer formato, desde que informe o autor, seu ministério e o tradutor, não altere o conteúdo original e não o utilize para fins comerciais.

sexta-feira, 24 de maio de 2013

A "Marcha Para Jesus": Uma Avaliação Crítica (2ª edição revisada)*


Autor: Augustus Nicodemus Lopes**


Introdução

A "Marcha para Jesus" é um evento que acontece em muitas cidades do Brasil, patrocinado pela Igreja Apostólica Renascer em Cristo, e consiste basicamente numa grande passeata de evangélicos com shows gospel. O evento ocorre desde 1993 no Brasil e costumava dividir opiniões tanto na mídia secular quanto evangélica. Hoje, já mais arrefecida, a "Marcha" continua chamando a atenção, embora com menos intensidade. O presente artigo visa apresentar uma análise crítica, não do evento propriamente dito, mas das razões e argumentos apresentados para justificar o evento. Estas razões e argumentos, bem como informações institucionais e históricas sobre a Marcha estão disponíveis no sitewww.marchaparajesus.com.br (em 12/01/2005).

Histórico da Marcha para Jesus

Conforme informações do referido site, a primeira Marcha para Jesus aconteceu em 1987 na cidade de Londres (Inglaterra), e foi fundada pelo pastor Roger Forster, pelo cantor e compositor Graham Kendrick, Gerald Coates e Lynn Green. Portanto, não é uma invenção da Igreja Renascer do Brasil. Ela simplesmente importou a idéia para nossa pátria. No início da década de 90, a Marcha se tornara um evento de proporções continentais, ocorrendo em toda Europa. Em 1992 a Marcha para Jesus já se tornava em um movimento mundial, chegando a outros países da América, África e Ásia. No ano de 1993, chega a vez do Brasil realizar a sua primeira edição do evento, sob a orientação da Renascer. A partir daí, a cada ano, o evento toma mais e mais aspecto de show gospel, apresentação de artistas evangélicos e desfiles, sempre com muita dança ao som de pagode e axé ditos evangélicos. Em alguns locais, não sabemos se de acordo com a coordenação da Marcha ou não, políticos evangélicos têm aproveitado a oportunidade.

A Ideologia por Detrás da Marcha

Existe uma justificativa teológica elaborada para a Marcha, que procura abonar o evento à luz da Bíblia. Os pontos abaixo foram retirados do site Marcha para Jesus (www.marchaparajesus.com.br) e se constituem na "teologia da Marcha". Aliás, a maior parte deles se encontra exatamente debaixo do tópico "teologia" no site da Marcha. Segue um resumo dos principais argumentos, entre outros, seguidos de um breve comentário.
  1. A ordem de "marchar" aparentemente foi dada mediante revelação do Espírito Santo. Diz o site:
    A visão inicial da Marcha para Jesus, como qualquer outra ação em que os cristãos empreendem para Deus, está baseado [sic!] no conhecimento e na obediência. Nós acreditamos que Deus diz para nós marcharmos, e esta obediência precede uma revelação. O Espírito Santo de Deus nos conduz em toda a verdade (João 16:13) e a teologia do ato de marcharmos para Jesus emerge quando nós nos engajamos em ouvir o que o Espírito Santo está dizendo para uma Igreja atuante e batalhadora nesta terra.
    Comentário: O parágrafo acima não é claro, mas dá a entender que a visão inicial foi mediante uma revelação de Deus, seguida da obediência da Renascer, em cumprir a visão. Líderes da Renascer negam que a visão inicial foi dada por revelação. Contudo, o parágrafo acima sugere que a visão da Marcha foi dada pelo Espírito para a Renascer. Quando nos lembramos que a Renascer tem um "apóstolo" (uso o termo entre aspas, não por qualquer desrespeito ao líder da Renascer, mas porque não creio que existam apóstolos hoje à semelhança dos Doze e de Paulo), imagino que "revelações" (uso o termo entre aspas não por desrespeito às práticas da Renascer, mas porque não creio que existam novas revelações da parte de Deus hoje) devam ser freqüentes.
  2. Segundo a Renascer, a Marcha é uma declaração teológica: a Igreja está em movimento e está viva! É o meio pelo qual os cristãos querem ser conhecidos publicamente como discípulos de Jesus.
    Comentário: Se esta é a forma bíblica dos cristãos mostrarem que estão vivos e que são seguidores de Jesus, é no mínimo estranho que não encontremos o menor traço de marchas para Jesus no Novo Testamento, ou para Deus no Antigo.
  3. A Marcha é entendida como uma celebração semelhante às do Antigo Testamento, possuindo uma qualidade extremamente espontânea e alegre. Participam da Marcha jovens de caras pintadas, cartazes, roupas coloridas e canções vivazes. Isto é visto como uma celebração do amor extravagante de Deus para o mundo.
    Comentário: Na minha avaliação, o ponto acima dificilmente pode ser tomado como um argumento bíblico ou teológico para justificar o evento. As "marchas" de Israel no Antigo Testamento, não tinham como alvo evangelizar os povos - ao contrário, eram marchas de guerra, para conquistá-los ou exterminá-los, conforme o próprio Deus mandou naquela época. Fica difícil imaginar os israelitas organizando uma marcha através de Canaã, com os levitas tocando seus instrumentos e dando shows, para ganhar os cananeus para a fé no Deus de Israel!
  4. Marchar para Jesus é visto também como um ato profético que dá consciência espiritual às pessoas. Josué mobilizou as pessoas de Israel para marchar ao redor das paredes de Jericó. Jeosafá marchou no deserto entoando louvores a Deus. Quando os cristãos marcham, estão agindo profeticamente, diz a Renascer.
    Comentário: Entendo que se trata de um uso errado das Escrituras. Por exemplo: se vamos tomar o texto de Josué como uma ordem para que os cristãos marchem, por que então somente marchar? Por que não tocar trombetas? E por que só marchar uma vez, e não sete ao redor da cidade inteira? E por que não mandar uma arca com as tábuas da lei na frente? E por que não ficar silencioso as seis primeiras vezes e só gritar na sétima?
  5. Marchar para Jesus traz uma sensação natural de estar reivindicando o lugar no qual os participantes caminham. Acredita-se que assim libera-se no mundo espiritual a oportunidade desejada por Deus: "Todo o lugar que pisar a planta do vosso pé, eu a darei ..." (Josué 1.3).
    Comentário: Será esta uma interpretação correta das Escrituras? Podemos tomar esta promessa de Deus a Josué e ao povo de Israel como sendo uma ordem para que os cristãos de todas as épocas marquem o terreno de Deus através de marchas? Que evangelizem, conquistem, e ganhem povos e nações para Jesus através de marchar no território deles? Que estratégia é esta, que nunca foi revelada antes aos apóstolos, Pais da Igreja, missionários, reformadores, evangelistas, de todas as épocas e terras, e da qual não encontramos o menor traço na Bíblia?
  6. A Marcha destrói as fortalezas erguidas pelo inimigo em certas áreas das cidades e regiões onde ela acontece, declarando com fé que Jesus Cristo é o Senhor do Brasil.
    Comentário: Onde está a fundamentação bíblica para tal? Na verdade, este ponto é baseado em conceitos do movimento de batalha espiritual, especialmente o conceito de espíritos territoriais, e em conceitos da confissão positiva, que afirmam que criamos realidades espirituais pelo poder das nossas declarações e palavras.
  7. Os defensores da Marcha dizem que ela projeta a presença dos evangélicos na mídia de todo o Brasil.
    Comentário: É verdade, só que a projeção nem sempre tem sido positiva. Além de provocar polêmica entre os próprios evangélicos, a mídia secular tem tido por vezes avaliação irônica e negativa.
  8. Os defensores da Marcha dizem que ela projeta a presença dos evangélicos na mídia de todo o Brasil.
    Comentário: É verdade, só que a projeção nem sempre tem sido positiva. Além de provocar polêmica entre os próprios evangélicos, a mídia secular tem tido por vezes avaliação irônica e negativa.
  9. Os defensores da Marcha dizem que pessoas se convertem no evento.
    Comentário: Não nos é dito qual é o critério usado para identificar as verdadeiras conversões. Se for levantar a mão ou vir à frente durante os shows e as pregações da Marcha, é um critério bastante questionável. As estatísticas que temos nos dizem que apenas 10% das pessoas que atendem a um apelo em cruzadas de evangelização em massa, como aquelas de Billy Graham, permanecem nas igrejas. Mas, mesmo considerando as conversões reais, ainda não justificaria, pois não raras vezes Deus utiliza meios para converter pessoas, meios estes que não se tornam legítimos somente porque Deus os usou. Por exemplo, o fato de que maridos descrentes se convertem através da esposa crente não quer dizer que Deus aprova o casamento misto e nem que namorar descrentes para convertê-los seja estratégia evangelística adequada.
  10. Os defensores dizem ainda que a Marcha promove a unidade entre os cristãos. Em alguns lugares do mundo, a Marcha é concluída com um "pacto" entre as denominações, confissões e indivíduos, exigindo que cada um deles não faça mais discriminação por razões doutrinárias.
    Comentário: Sou favorável à unidade entre os verdadeiros cristãos. Mas não a qualquer preço e não qualquer tipo de união. A unidade promovida pela Marcha, sob as condições mencionadas acima, tem o efeito de relegar a doutrina bíblica a uma condição secundária. O resultado é que se deixa de dar atenção à doutrina. Em nome da unidade, abandona-se a exatidão doutrinária. Deixa-se de denunciar os erros doutrinários grosseiros que estão presentes em muitas denominações, erros sobre o ser de Deus, sobre a pessoa de Jesus Cristo, a pessoa e atuação do Espírito, o caminho da salvação pela fé somente, etc. Unidade entre os cristãos é boa e bíblica somente se for em torno da verdade. Jamais devemos sacrificar a verdade em nome de uma pretensa unidade. A unidade que a Marcha mostra ao mundo não corresponde à realidade. Ela acaba escondendo as divisões internas, os rachas doutrinários, as brigas pelo poder e as divisões que existem entre os evangélicos. Se queremos de fato unidade, vamos encarar nossas diferenças de frente e procurar discuti-las e resolve-las em concílios, reuniões, na mesa de discussão - e não marchando.
  11. Os defensores da Marcha dizem que ela é uma forma de proclamação do Evangelho ao mundo.
    Comentário: A resposta que damos é que a proclamação feita na Marcha vem misturada com apresentações de artistas gospel profissionais, ambiente de folia e danceteria, a ponto de perder-se no meio destas outras coisas. Além do mais, a mensagem proclamada é aquela da Renascer em Cristo, com a qual naturalmente as igrejas evangélicas históricas não concordariam, pois é influenciada pela teologia da prosperidade e pela batalha espiritual.
É evidente que, analisada de perto, a "teologia da Marcha" não se constitui em teologia propriamente dita. Os argumentos acima não provam que há uma revelação para que se marche, e não justificam a necessidade de os cristãos obedecerem organizando marchas. Não há qualquer justificativa bíblica para que os cristãos façam marchas, nem qualquer sustentação bíblica para a idéia de "dar a Deus a oportunidade" mediante uma marcha, ou ainda de que, marchando e declarando, se conquistam regiões e cidades para Cristo. Se há fundamento bíblico, por que os primeiros cristãos não o fizeram? Por que historicamente a Igreja Cristã nunca fez?
Pelos motivos acima, entendo que os argumentos bíblicos e teológicos apresentados para justificar a Marcha para Jesus não procedem. Nada tenho contra que cristãos organizem uma Marcha para Jesus. Apenas acho que não deveriam procurar justificar bíblica e teologicamente como se fosse um ato de obediência à Palavra de Deus. Neste caso, estão condenando como desobedientes todos os cristãos do passado, que nunca marcharam, e os que, no presente, também não marcham.