sexta-feira, 30 de agosto de 2013

Eu sou neurótico!


Cheguei à conclusão que sou neurótico. O que já pode ser percebido pelo início deste texto e o restante da argumentação. Ainda bem que neurose não tem qualquer relação com doença mental. Ufa! Pelo menos não sou maluco. Ainda não. Quem sabe um dia. Na minha consulta ao Dr. Google sobre o assunto, descobri que tenho transtorno ansioso, também conhecido como ansiedade neurótica, que se expressa em sintomas cardiovasculares, sudorese e opressão no peito; e tensão muscular exagerada, espasmos e tremores.

Pois bem, quando sou acometido por esta ansiedade neurótica a minha perna começa a tremer de forma incontrolável e uma pressão no peito às vezes faz com que eu sinta falta de ar.

Antes que alguém pense que eu, de vez em quando, fique no mesmo estado perturbado do rei Saul, ou que tudo isso exija a minha participação em um “encontro poderoso” para a libertação dessa opressão, quero adiantar que considero tudo isso crendice popular gospel e macumba evangélica. Portanto, comigo não cola.

Além disso, neurose tem “cura”, assim como o diabetes. Na verdade, tem controle. Neste aspecto eu tenho duas coisas a controlar, a neurose e a diabetes, com a qual convivo desde os 10 anos de idade. Novamente, nada dessa piada, no estilo humor negro evangélico, em dizer que eu tenho maldição hereditária que precisa ser quebrada ou encosto a ser afastado, porque “diabete” é a mulher do “diabo”.

Acho que agora eu vou escandalizar geral: essa minha ansiedade neurótica se manifesta justamente dentro da igreja, durante o culto, no momento em que alguém está pregando ao púlpito, ao longo de certas pregações.
Antes que você conclua que eu preciso ser “ungido com óleo” e passar por uma “corrente de libertação”, irei explicar o motivo dessa neurose.

Há alguns meses eu tive a grata satisfação de acessar, através de textos publicados nos blogs Voltemos ao Evangelho1 2 e I-Pródigo3, as páginas do Ministério 9 Marcas4 5 6 que tratavam da pregação teologicamente bíblica. Também pude ler argumentações em favor da sã doutrina7, que aliada à revelação de Cristo em toda a Escritura Sagrada, formam os fundamentos para o adequado entendimento da Bíblia e a eficaz pregação expositiva.
Uma excelente referência foi o artigo de Dario de Araújo Cardoso8 que defendia a necessidade da abordagem cristocêntrica dos textos biográficos do Antigo Testamento. Deveríamos olhar para as pessoas retratadas na Bíblia não apenas como exemplos de moralidade ou de conduta reprovável, mas cujas histórias se encaixam dentro de uma história maior, a revelação do plano de redenção elaborado por Deus, que culminou em Jesus Cristo. Assim, deveríamos todos, crentes que leem a Bíblia e pregadores, atentar para a chave hermenêutica bíblica: “Cristo não é apenas o tema central e principal das Escrituras, mas é, sobretudo, o tema de toda a Escritura”, de forma que “todo sermão realmente bíblico se desenvolverá de forma a apresentar Jesus Cristo aos ouvintes”.

Com base nestes textos reveladores e ajustadores da minha conduta, sugeri à liderança da igreja local que pensasse na possibilidade de abordar esses temas na nossa Escola Bíblica Dominical. Graças a Deus, a ideia foi comprada e tivemos duas saudáveis manhãs para sermos ensinados como compreender melhor a Bíblia, fundamentados em três pilares, resumidos a seguir:

1) Toda as Escrituras falam a respeito de Jesus Cristo (João 5.39, 46; Lucas 24.25-27; Atos 2.29-32; 3.18,24; 26.22-23) – O Messias é revelado ao longo da Bíblia, e como estudantes ou pregadores temos o dever de encontrar o Salvador e sua obra nos textos do Antigo e do Novo Testamento;

2) A sã doutrina é encontrada no evangelho (1 Timóteo 1.8-11) – Trata-se do conjunto de princípios que servem de base para a regra de fé, comportamento e norma de conduta social, obtidos a partir da compreensão da revelação bíblica da pessoa e obra do Pai, da pessoa e obra do Filho, da pessoa e obra do Espírito Santo. Ou seja, como devo agir dentro e fora da igreja diante daquilo que a Bíblia revela por meio do evangelho;

3) A teologia bíblia enxerga a Bíblia unificada em torno do evangelho – Trata-se do entendimento que a Bíblia é o relato autobiográfico de Deus, da sua missão pessoal de resgate para restaurar um mundo perdido por meio de seu Filho. Desta forma, mesmo não desconsiderando os estilos dos textos (histórico, poético ou profético), o momento histórico ou a cultura local, o relato bíblico transcende tudo isso porque estes aspectos se encaixam na revelação progressiva do plano de redenção dos escolhidos de Deus. Assim, a Bíblia passa muito longe do discurso motivacional. O glorioso evangelho é o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê (Romanos 1.16), com ênfase em poder de Deus.

A partir daqueles dois dias de Escola Bíblica eu fiquei mais neurótico do que antes. Percebi o quanto é ridiculamente fácil manipular as emoções das pessoas e a partir de uma falação recheada de palavras de efeito e até frases de para-choque de caminhão, promover um discurso vazio, sem Cristo, que poderia ter sido feito por qualquer um desses palestrantes motivacionais contratados por empresas. Percebi o quanto este discurso deixa o crente comum extremamente satisfeito. O povo gosta disso.

Curioso foi notar que uma irmã que tinha saído por um instante, antes do professor começar a dar um exemplo de como seria uma pregação sem teologia bíblica, ao voltar no meio daquela falação empolgante, do apelo, atos proféticos e da música que foi cantada no final, começar a dar “glória a Deus” pelo que ouvia, dizendo: “Eu recebo”.

Meus amigos, como é fácil preparar um sermão assim. E como é difícil para quem passou a vida inteira ouvindo sermões como estes, perceber o quanto é infrutífero tal discurso. Quão grande é a luta para pregar o verdadeiro evangelho nos nossos dias. Simplesmente e poderosamente o evangelho transformador, capaz de fazer nova criação (2 Coríntios 5.17).

Hoje, a minha ansiedade neurótica se manifesta toda a vez que eu ouço um discurso vazio, humanista, psicológico, sociológico e motivacional. Toda vez que percebo que bastaria pegar um palestrante de empresas e colocá-lo sobre o púlpito em substituição do pregador, que o discurso seria o mesmo, com a única diferença que o palestrante não usaria a Bíblia para sustentar sua fala.
Interessante são as alcunhas que alguns dão a essa “pregação psicologizada”. Certa vez eu ouvia o programa de uma rádio evangélica, quando o pastor disse que iria dar uma “palavra pastoral” para a aflição da ouvinte e começou a dar conselhos no estilo “pregação psicologizada”, a ponto de me fazer pensar até que ele estava lendo um texto escrito pela Zora Yonara.

Meus irmãos, se a nossa pregação em nada diferenciar-se dos discursos budistas, taoistas, kardecistas, esotéricos, hinduístas ou humanistas, para nada serve, a menos para ser pisada pelos porcos. Na pregação bíblica há o poder de Deus para a transformação do homem, porque trata do maior problema da humanidade, o pecado e a necessidade de um Salvador substitutivo. Isso vale tanto para a conversão quanto para a caminhada cristã. Digo isso porque há crentes que acreditam que, uma vez convertidos, não precisam mais da mensagem da cruz.

Hoje em dia minha ansiedade neurótica é percebida quando ouço pregações totalmente moralistas, desprovidas de conteúdo bíblico e que usam o texto Sagrado apenas como mote para falar de coisas que passam muito longe da graça. Assim, ao perceber que o pregador lê sobre um personagem do Antigo Testamento e olha para os bons e maus exemplos da vida desta pessoa para tirar dali estratégias de como o crente deve ou não deve viver, como pode vencer os problemas da vida, tudo isso sem olhar para o plano de redenção, sem olhar para as doutrinas da graça, sem olhar para a própria graça salvadora, em um discurso do homem para o homem, com o nome Jesus totalmente dispensável, minha perna começa a tremer, sinto uma pressão no peito e falta de ar.
Sim, ultimamente tenho sido acometido pela neurose.

Por Erlon Reis

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Você também poderá acessar: 
1http://voltemosaoevangelho.com/blog/2011/12/os-meios-da-graca-leitura-biblica-3/

O Declínio da Pregação Contemporânea


Você já percebeu como diversos comerciais de televisão não falam especificamente sobre os produtos que anunciam? Um anúncio de jeans apresenta um comovente drama a respeito da infelicidade dos adolescentes, mas não se refere ao jeans. Um comercial de perfumes mostra uma coletânea de imagens sensuais sem qualquer referência ao produto anunciado. As propagandas de cerveja são algumas das mais criativas da televisão, mas falam muito pouco sobre a própria cerveja.
Esses comerciais são produzidos com o objetivo de entreter, criar disposição e apelar às nossas emoções, mas não para transmitir informações. Com freqüência, eles são os mais eficientes, visto serem os que fazem melhor proveito da televisão. São produtos naturais de um veículo de comunicação que promove uma visão surrealista do mundo.
A televisão mescla sutilmente a vida real com a ilusão. A verdade é irrelevante. O que realmente importa é se estamos sendo entretidos. A essência não significa nada; o estilo de vida é o que mais interessa. Nas palavras de Marshall McLuhan, o instrumento é a mensagem.
Amusing Ouselves to Death (Divertindo-nos até à morte) é um livro perceptivo mas inquietante escrito por Neil Postman, professor da Universidade de Nova Iorque. Ele argumenta que a televisão nos tem mutilado a capacidade de pensar e reduzido nossa aptidão para a verdadeira comunicação.
Postman assegura que, ao invés de nos tornar a mais informada e erudita de todas as gerações da História, a televisão tem inundado nossas mentes com informações irrelevantes, sem significado. Ela nos tem condicionado apenas ao entretenimento, tornando obsoletas outras formas de interação humana.
Postman ressalta que até os noticiários são uma apresentação teatral. Jornalistas simpáticos relatam calmamente breves notícias sobre guerras, assassinatos, crimes e desastres naturais. Essas histórias catastróficas são intercaladas por comerciais que banalizam suas informações, isolando-as de seu contexto. Em seu livro, Postman registra um noticiário em que um almirante declarou que uma guerra nuclear mundial seria inevitável. No próximo segmento da programação, houve um comercial do Rei dos Hamburgers. Não se espera que nossa reação seja racional. Nas palavras de Postman, .os espectadores não reagirão com um senso da realidade, assim como a audiência no teatro não sairá correndo para casa, porque alguém no palco disse que um assassino estava solto na vizinhança..
A televisão não pode exigir uma resposta sensata. As pessoas ligamna para se divertir, não para serem desafiadas a pensar. Se um programa exige que pensemos ou demanda muito de nossas faculdades intelectuais, ninguém o assiste.
A televisão tem diminuído o alcance de nossa atenção. Por exemplo, alguma pessoa de nossa sociedade ficaria de pé, entre uma sufocante multidão, durante sete horas para ouvir os debates dos candidatos a presidente da República? Sinceramente, é muito difícil imaginar que nossos antepassados possuíam esse tipo de paciência. Temos permitido a televisão nos fazer pensar que sabemos mais agora, enquanto na verdade estamos perdendo nossa tolerância na área de pensar e aprender.
Sem dúvida, a mensagem mais vigorosa do livro de Postman está em um capítulo sobre religião. Esse homem não-crente escreve com profundo discernimento a respeito do declínio da pregação. Ele contrasta a pregação contemporânea com o ministério de homens como Jonathan Edwards, George Whitefield e outros. Estes homens contavam com um profundo conteúdo, lógica e conhecimento das Escrituras. Em contraste, a pregação de nossos dias é superficial, com ênfase no estilo e nas emoções. Na definição moderna, a .boa. pregação tem de ser, antes de tudo, breve e estimulante. Consiste em entretenimento, não em ensino, repreensão, correção ou educação na justiça (2 Tm 3.16).
O modelo da pregação moderna é o evangelista esperto que exagera as emoções, traz consigo um microfone, enquanto anda pomposamente ao redor do púlpito, levando os ouvintes a baterem palmas, movimentarem- se e fazerem aclamações em voz bem alta, ao tempo em que ele os incita a um frenesi. Não existe alimento espiritual na mensagem, mas quem se importa, visto que a resposta é entusiástica?
É lógico que a pregação em muitas das igrejas conservadoras não se realiza de maneira tão exagerada assim. Mas, infelizmente, até algumas das melhores pregações de nossos dias contêm mais entretenimento do que ensino. Muitas igrejas têm um sermão característico de meia hora, repleto de histórias engraçadas e pouco ensino.
Na verdade, muitos pregadores consideram o ensino de doutrinas como algo indesejável e sem utilidade prática. Uma grande revista evangélica recentemente publicou um artigo escrito por um famoso pregador carismático. Ele utilizou uma página inteira para falar sobre a futilidade tanto de pregar quanto de ouvir sermões que vão além de mero entretenimento. Qual foi a sua conclusão? As pessoas não recordam aquilo que você pregou; por isso, a maior parte da pregação é perda de tempo. .Procurarei fazer melhor no próximo ano., ele escreveu, .isto significa desperdiçar menos tempo ouvindo sermões demorados e gastando mais tempo preparando sermões curtos. As pessoas, eu descobri, perdoarão uma teologia pobre, se o culto matinal terminar antes do meio-dia..
Isto resume com perfeição a atitude que predomina na igreja moderna. Existe uma semelhança entre esse tipo de pregação e os comerciais de jeans, perfume e cerveja na televisão. Assim como os comerciais, a pregação moderna tem o objetivo de criar uma disposição íntima, evocar uma resposta emocional e entreter, mas não o de comunicar necessariamente algo da essência das Escrituras. Esse tipo de pregação é uma completa acomodação a uma sociedade educada pela televisão. Segue o que é agradável, porém revela pouca preocupação com a verdade. Não é o tipo de pregação ordenada nas Escrituras. Temos de pregar a Palavra (2 Tm 4.2); falar .o que convém à sã doutrina. (Tt 2.1); ensinar e recomendar .o ensino segundo a piedade. (1 Tm 6.3). É impossível fazer estas coisas se nosso alvo é entreter as pessoas.
O futuro da pregação expositiva é incerto. O que um pastor sincero tem de fazer para alcançar pessoas que se mostram indispostas e incapazes de ouvir com atenção e raciocínio exposições da verdade divina? Este é o grande desafio para os líderes da igreja contemporânea. Não devemos nos render à pressão para sermos superficiais. Temos de encontrar maneiras de fazer conhecida a Palavra de Deus a uma geração que não apenas recusa-se a ouvir, mas também não sabe como ouvir.
Fonte: Editora Fiel