Sei que há
exceções, mas elas não são muitas. A regra é que, aqui no Brasil, pastores e
pregadores mais conservadores e reformados pastoreiam igrejas pequenas, entre
80 a 150 membros. Esse fato é notório e não poucas vezes tem sido usado como
crítica contra a doutrina reformada. Se ela é bíblica, boa e correta, porque os
seus defensores não conseguem convencer as pessoas disso? Por que suas igrejas
são pouco frequentadas não têm envolvimento missionário, não evangelizam,
não crescem e têm poucos jovens?
Como eu
disse, há exceções. Conheço igrejas reformadas que são dinâmicas, crescentes,
grandes, evangelizadoras e missionárias. Conheço também outras menores, que
crescem não pelo aumento do número de membros na sede, mas pela plantação de
outras igrejas. Quando eu digo "igrejas minúsculas" refiro-me não
somente ao tamanho, mas à visão, ao envolvimento na evangelização e missões e à
diferença que fazem. Tenho em mente as igrejas que se arrastam na rotina de
seus trabalhos, ensaios e cultos há dezenas de anos, sempre do mesmo tamanho
diminuto, sem que gente nova chegue para fazer a diferença.
Consciente
de que há igrejas reformadas grandes e crescentes, mas também consciente das
muitas pequenas que não crescem faz muito tempo, em nenhum sentido, eu faria os
seguintes comentários nesse post, que bem poderia ser intitulado de
"Navalha na Carne":
1.
Infelizmente,
ao rejeitar a idéia de que em termos de crescimento de igrejas os números não
dizem tudo, muitos de nós, reformados, nos esquecemos de que eles,
todavia, dizem alguma coisa. Podemos aceitar que está tudo bem e tudo certo
com uma igreja local que cresceu apenas 1% nos últimos anos, crescimento em
muito inferior ao crescimento da população brasileira e do crescimento de outras
igrejas evangélicas? Especialmente em se tratando de uma igreja em um país onde
os evangélicos não são perseguidos pelo Estado e as oportunidades estão
escancaradas diante de nós?
2.
Igualmente
infeliz é a postura de justificar o tamanho minúsculo com o argumento da
soberania de Deus. É evidente que, como reformado, creio que é Deus quem dá o
crescimento. Creio, também, que antes de colocar a culpa em Deus, nós,
pastores reformados, deveríamos fazer algumas perguntas básicas: nossa
igreja está bem localizada? O culto é acolhedor e convidativo? A igreja tem
desenvolvido esforços consistentes e freqüentes para ganhar novos membros? A
pregação tem como objetivo direto converter pecadores? A pregação é inteligível
para algum descrente que por acaso esteja ali? Os membros da igreja estão
possuídos de espírito evangelístico? Existe oração na igreja em favor da
conversão de pecadores e crescimento do número de membros? Creio que muitos
pastores reformados colocam cedo demais a responsabilidade do tamanho de suas igrejas
em Deus, antes de fazer o dever de casa.
3.
É triste
perceber que, em muitos casos, a soberania de Deus é usada como desculpa para
não se fazer absolutamente nada em termos de esforço consciente para ganhar
pessoas para Cristo. Que motivos Deus teria para querer que as igrejas
reformadas fossem pequenas e que os anos se passem sem que novos membros sejam
adicionados pelo batismo? Que motivos secretos levariam o Deus que nos
mandou pregar o Evangelho a todo o mundo impedir que as igrejas locais reformadas
cresçam em um país livre, onde a pregação é feita em todo lugar e onde outras
igrejas evangélicas estão crescendo vertiginosamente? Penso que o problema da
naniquice não está em Deus, mas em nós. Ai de nós, porque além de não
crescermos, ainda culpamos a Deus por isso!
4.
É verdade
que muitas igrejas evangélicas crescem usando estratégias e metodologias
questionáveis. Especialmente aquelas da teologia da prosperidade, que atraem as
pessoas com promessas de bênçãos materiais e curas que não podem cumprir. Todavia,
criticar o tamanho dessas igrejas e apontar seus erros teológicos e
metodológicos não nos justifica por termos igrejas minúsculas. O que nos
impede de termos igrejas grandes usando os métodos certos?
5.
O problema
com muitos de nós, pastores conservadores e reformados, é que não estamos
abertos para mudanças e adaptações, nos cultos, nas atitudes e posturas, por
menores que sejam, que poderiam dar uma cara mais simpática à igreja. Ser
simpático, acolhedor, convidativo, atraente, interessante não é pecado e nem
vai contra as confissões reformadas e a tradição puritana. Igrejas sisudas
com cultos enfadonhos nunca foram o ideal reformado de igreja. Pastores
reformados deveriam estar pensando em como fazer sua igreja crescer, em vez de
se resignarem e racionalizarem em suas mentes que ter uma igreja pequena é OK.
6.
Os crentes
fiéis que estão nas igrejas já por muitos e muitos anos também precisam de
alimento e pastoreio. Que Deus me livre de desprezá-los. Sei que Deus pode
chamar alguém para o ministério de consolar e confortar crentes antigos durante
anos a fio, igreja pequena após igreja pequena. Mas vejo essa vocação como
apenas uma pequena parte do ministério pastoral, quase uma exceção. O que me
assusta é ver que essa exceção tem se tornado praticamente a regra no arraial
conservador e reformado. Será que Deus predestinou as igrejas
conservadoras e reformadas para serem doutrinariamente corretas mas minúsculas,
e as outras para crescerem apesar da teologia e metodologia erradas? Será
que ele não tem vocacionado os conservadores para serem ganhadores de almas,
evangelistas, plantadores de igrejas e expansores do Reino? Será que a vocação
padrão do pastor conservador é de ministrar a igrejas minúsculas ano após ano,
sem nunca conhecer períodos de refrigério e grande crescimento no número de
membros? Será que quando um pastor, que era um evangelista ardente, se torna
reformado, sempre vai virar teólogo e professor?
7.
O que mais
me assusta é que tem pastores reformados que se orgulham de ter igrejas nanicas! "Muitos são chamados e poucos
escolhidos", recitam com satisfação. Orgulham-se de serem do movimento do
"esvaziamento bíblico", em vez do "avivamento bíblico"!
Dizem: "os verdadeiros crentes são poucos. Prefiro uma igreja pequena de
qualidade do que uma enorme cheia de gente interesseira e superficial".
Bom, se eu tivesse que escolher entre as duas coisas talvez preferisse a
pequena mesmo. Mas, por que tem que ser uma escolha? Não podemos ter igrejas
reformadas cheias de gente que está ali pelos motivos certos? Eu sei que a
qualidade sempre diminui a quantidade, mas será que tanto assim?
8.
Nós,
pastores reformados em geral, temos a tendência de considerar a sã doutrina o
foco mais importante da vida da Igreja. Portanto, muitos de nós passam seu
ministério inteiro doutrinando e redoutrinando seu povo nos pontos fundamentais
da doutrina cristã reformada. Pouca atenção dão para outros pontos igualmente
importantes: espiritualidade bíblica, vida de oração, evangelismo consciente e
determinado e planejado. Acho que uma coisa não exclui a outra. Aliás, creio
que a doutrinação bíblica sempre será evangelística, e que o evangelismo
bíblico é sempre doutrinário. "Pregação", disse Spurgeon,
"é teologia saindo de lábios quentes".
9.
Alguns
pastores reformados ficam tão presos pela doutrina da depravação total que não
sabem mais como convidar pecadores a crerem em Jesus Cristo. Temos medo de
parecer arminianos se ao final da mensagem convidarmos os pecadores a receberem
a Cristo pela fé, ou mesmo se, durante a pregação, pressionarmos as pessoas a
tomarem uma decisão. O fantasma de Finney, o presbiteriano criador do
sistema de apelos, assombra e atormenta os pregadores reformados, que chegam ao
final da mensagem e não sabem como aplicá-la aos pecadores presentes sem
parecer que estão fazendo apelação. Ficam com receio de parecerem
pentecostais se durante a pregação falarem de forma mais coloquial, falar de
forma direta às pessoas, se emocionarem ou ficarem fervorosos, ou mesmo se
gesticularem demais e andarem no púlpito. Acho que se os pregadores reformados
parecessem mais humanos e naturais, mais à vontade nos púlpitos, despertariam
maior interesse das pessoas.
10. Creio, por fim, que ao reagirem contra os
excessos do pentecostalismo quanto ao Espírito Santo, muitos reformados ficaram
com receio de orar demais, se emocionar demais, jejuar, fazer noites de
vigília, pregar nas praças e ruas e de pedirem a Deus que conceda um grande
avivamento espiritual em suas igrejas. Só tem uma coisa da qual os
reformados têm mais medo do que parecer arminianos, que é parecer pentecostais. Aí,
jogamos fora não somente a água suja da banheira, mas menino e tudo! Acho que
se houvesse mais oração e clamor a Deus por um legítimo despertamento
espiritual, veríamos a diferença.
Pedi a
alguns amigos meus, reformados, que criticassem esse post, antes de publicá-lo.
Um deles me escreveu:
"Gostei
mesmo. Me irrita o espírito de 'seita sitiada' tão comum em nosso meio
[reformado]; a idéia de que a vocação da igreja é defender uma fortaleza. Somos
rápidos para criticar, mas tão tardos em propor alternativas".
Acho que
ele resumiu muito bem o ponto.
Não tenho
respostas prontas nem soluções elaboradas para o nanismo eclesiástico. Todavia,
creio que passa por um genuíno quebrantamento espiritual entre os pastores, que
nos humilhe diante de Deus, nos leve a sondar nossa vida e ministério, a
renovar nossos compromissos pastorais, a buscar a plenitude do Espírito Santo e
a buscar a Sua glória acima de tudo.
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